A segunda fase da Operação Fames-19, deflagrada pela Polícia Federal e autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), trouxe novos elementos sobre o suposto esquema de desvio de recursos da compra de cestas básicas e frangos congelados durante a pandemia da Covid-19 no Tocantins. O governador Wanderlei Barbosa e a primeira-dama, Karynne Sotero, foram afastados dos cargos por decisão do ministro Mauro Campbell.
Conforme revelou o G1, De acordo com as investigações, o empresário Marcus Vinícius Santana teria atuado como responsável pelo manejo de valores ilícitos, sendo classificado como “operador financeiro” do governador. Imagens anexadas ao inquérito mostram Santana portando bolsas e maços de dinheiro em espécie.
Interceptações telefônicas também revelaram que outros suspeitos chamavam os pagamentos indevidos de “bênçãos”. Em uma das trocas de mensagens, investigados combinam a entrega de valores, reforçando o uso de linguagem cifrada para mascarar as negociações.
Segundo a PF, um dos envolvidos, Paulo César Lustosa, teria recebido mais de R$ 1,3 milhão em propinas. Ele aparece em conversas com o irmão, Wilton Pires, discutindo repasses de dinheiro e enviando fotos de pilhas de cédulas. A apuração aponta que empresas de fachada foram contratadas para fornecer cestas básicas e frangos, mas parte dos produtos nunca foi entregue. O prejuízo estimado aos cofres públicos supera R$ 73 milhões.
O relatório do STJ descreve que Marcus Vinícius era responsável por movimentar o dinheiro em espécie, por meio de transferências e saques, que depois eram repassados a assessores e parentes próximos do governador. Um dos nomes citados foi o de Thiago Barbosa, sobrinho do chefe do Executivo, mas a defesa dele afirma que houve erro na decisão e que ele não integra a lista de investigados.
Na primeira etapa da operação, em agosto de 2024, a PF já havia encontrado R$ 32,2 mil em espécie dentro de uma gaveta no gabinete do governador, no Palácio Araguaia. Também foram apreendidos dólares, euros e outros valores em endereços ligados a Wanderlei Barbosa. Para os investigadores, a circulação constante de altas quantias em dinheiro reforça a suspeita de corrupção ativa e passiva.
Ao determinar o afastamento por 180 dias, o ministro Mauro Campbell destacou a “dinâmica organizada para dissimular e dificultar o rastreamento dos valores desviados”. O governador e a primeira-dama, que também acumulava o cargo de secretária extraordinária de Participações Sociais, ficam impedidos de exercer funções públicas durante o período.
Em nota, Wanderlei Barbosa afirmou respeitar a decisão judicial, mas classificou a medida como precipitada, destacando que os contratos investigados foram firmados entre 2020 e 2021, ainda na gestão do ex-governador Mauro Carlesse, quando ele ocupava a vice-governadoria. Karynne Sotero declarou estar confiante em comprovar sua inocência.
Já a defesa de Thiago Barbosa disse que seu nome foi citado por equívoco e solicitou a exclusão imediata do processo. As defesas de Marcus Vinícius Santana e Taciano Darcles ainda não se manifestaram. A Operação Fames-19 investiga crimes de corrupção, peculato, fraude em licitação, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. A suspeita é de que os recursos desviados tenham sido ocultados por meio da construção de empreendimentos de luxo, compra de gado e pagamento de despesas pessoais dos envolvidos.