Os produtores rurais protocolaram 700 pedidos de recuperação judicial entre janeiro e junho de 2025, alta de 45% em relação aos 320 requerimentos registrados no mesmo período do ano anterior. Os dados são do advogado Euclides Ribeiro Silva, especialista em reestruturação de dívidas no agronegócio.
O avanço confirma a tendência observada em 2024, quando o país contabilizou 2.273 solicitações de recuperação judicial, maior número da década e 61,8% acima do verificado em 2023. Apenas o setor agropecuário respondeu por 1.272 desses casos, crescimento de 138% frente aos 534 do ano anterior, segundo a Serasa Experian. As estatísticas incluem produtores rurais pessoas físicas, autorizados a recorrer ao mecanismo desde 2020 após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Para Ribeiro Silva, os juros elevados — que chegam a 25% ao ano — são o principal fator de estrangulamento das finanças no campo. “Nenhuma atividade suporta taxas tão altas”, afirmou o advogado, que vê a recuperação judicial como “única saída” para muitos negócios. Ele também critica a ausência de uma política de crédito adequada para um segmento que deve representar 29,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, de acordo com estimativa do Cepea/Esalq-USP em parceria com a CNA. Em 2024, a fatia foi de 23,5%.
O também advogado especializado em agronegócio Eduardo Berbigier destaca que a elevação nas recuperações se intensificou a partir de 2023, impulsionada pela desvalorização dos produtos agrícolas. O saco de soja, exemplifica, passou de R$ 200 em 2022 para R$ 92 em 2025. Paralelamente, a alta do dólar encareceu insumos cotados na moeda norte-americana.
Berbigier calcula que, dos R$ 12 bilhões em dívidas incluídas em processos de recuperação judicial, R$ 3 bilhões pertencem ao agronegócio. Ele alerta para o impacto da chamada “indústria da recuperação” sobre o crédito junto a fornecedores, em um mercado ainda dependente de apenas cinco bancos e com poucos fundos de investimento dedicados ao setor.
Especialistas temem agravamento do quadro caso o Congresso Nacional aprove a tributação de 5% sobre as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), hoje isentas e consideradas fonte relevante de financiamento. Também preocupa o tarifaço dos Estados Unidos, que afeta US$ 40 bilhões em exportações brasileiras — desses, US$ 12 bilhões ligados ao agro, recebendo apenas 18% das isenções concedidas. Internamente, Ribeiro Silva defende a queda da taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, como condição para aliviar os juros cobrados pelos bancos e evitar o que chama de “risco sistêmico” à capacidade produtiva do país.
Com informações de Poder360